*José Álvaro de Lima Cardoso Um dos fatores que vêm influenciando fortemente as vendas no comércio no Brasil é o crescimento do emprego formal. Em maio, novamente, a geração de empregos bateu o recorde para o mês, com 298.000 novas vagas de carteira assinada, segundo os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho. Este resultado é o melhor da série histórica para o mês de maio, tendo superado 2004, quando o mercado de trabalho aumentou 291 mil novas vagas. No acumulado dos cinco primeiros meses de 2010, foram geradas 1,26 milhão de vagas, melhor resultado desde o início da série histórica. Resultados tão positivos na geração de empregos formais tem se refletido na Taxa de Desemprego Total, calculada pelo DIEESE nas Regiões Metropolitanas, que, em maio estava em 13,2%. Ainda que no mês de maio, a taxa de desemprego total, conjunturalmente, pouco tenha se alterado frente ao mês anterior, a tendência nos últimos 12 meses revela queda na taxa de desemprego, uma vez que em maio de 2009 ela situava-se em 15,1%. Este excepcional crescimento do emprego de carteira assinada não tem se refletido significativamente na elevação do rendimento. Segundo a PED- Metropolitana, nos últimos 12 meses, findos em abril, o Rendimento médio real dos ocupados apresentou pequeno crescimento de 0,5%. A massa de rendimento, claro, cresceu bem mais, 4,3%, em função do aumento no nível de ocupação. Apesar da robustez dos indicadores de geração de emprego, tanto os dados do comércio relativos a abril, quanto as informações mais recentes sobre a inflação mostram uma desaceleração no ritmo de crescimento “chinês” verificado no primeiro trimestre deste ano, o que é positivo do ponto de vista de um crescimento equilibrado. O Índice do Custo de Vida – ICV-DIEESE ficou em 0,02% (praticamente zero) em junho, a menor taxa desde a detectada em fev/09. A mesma tendência tinha sido constatada no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA-IBGE), que havia caído para 0,43% em maio, em grande parte devido ao recuo do grupo alimentos e bebidas. Conforme verificou o ICV-DIEESE, a comparação da inflação entre os primeiros semestres de 2009 e 2010 revela que os maiores responsáveis pela taxa elevada deste ano foram os itens do grupo Alimentação (4,35%) cuja variação foi muito superior à detectada no ano passado (1,11%). No entanto, como os alimentos há dois meses vêm apresentando baixas em seus preços (das 17 capitais onde o DIEESE realiza a Pesquisa Nacional da Cesta Básica, 16 apresentaram queda de preço em junho), a equipe do ICV projeta uma possível diminuição no ritmo inflacionário de 2010, com uma queda na inflação anualizada de jul/09 a jun/10 de 5,58%, para algo em torno de 5%. O cenário mais provável, portanto, para a economia brasileira no segundo semestre, é de continuidade da expansão dos investimentos, crescimento expressivo do Produto Interno Bruto (mas sem exageros) e controle de preços. Em face destes números mais recentes sobre crescimento e preços no Brasil, está na hora do Banco Central rever a sua atual estratégia de elevação dos juros básicos da economia. *Economista e supervisor técnico do DIEESE em Santa Catarina.